quinta-feira, 29 de maio de 2008

Um breve relato da história de Gilse Cosenza

Gilse Cosenza, Assistente Social formada pela Puc MG era ex-líder estudantil e tinha 18 anos em 1964. Foi presa e torturada por discordar da ditadura na década de 60. Depois, optou permanecer na clandestinidade, mudou de nome inúmeras vezes e lutou pelos direitos da mulher. Iniciou na década de 1960 sua militância na Juventude Universitária Católica e elegeu-se vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes da PUC de Minas Gerais. Hoje faz parte da direção do PCdoB e também atua no movimento popular da mulher.

Gilse era a integrante de uma lista de 17 estudantes onde era a única mulher do grupo e considerada perigosa, pois além de progressista era inteligente, por ter passado em primeiro lugar na Puc e ter notas acima de 9,5. Depois de formada, foi obrigada a fugir e viver na clandestinidade, mudou de nome e começou a trabalhar em uma fábrica têxtil em Belo Horizonte, a Renascença. Se casou na clandestinidade e logo depois engravidou. Continuou todos os trabalhos que fazia, as reuniões madrugada a dentro, a panfletagem e tudo que poderia fazer para ajudar os companheiros de luta.

Em uma dessas reuniões Gilse não parava de ir ao banheiro, quando descobriram que sua bolsa tinha se rompido. Achava que não, pois estava de noves meses de gravidez. Foi levada para o Hospital das Clínicas e descobriu que iria ter gêmeos. Os companheiros que a acompanhavam tiveram que conseguir um médico progressista, pois ali ela seria descoberta e presa.

Conseguiram um médico espírita, que fez o parto e não cobrou pelos serviços. As crianças tiveram que permanecer no hospital na incubadora para ganhar peso. Depois de quinze dias uma das gêmeas morreu e Gilse ficou apenas com uma das meninas. Quando sua filha Juliana completou quatro meses, Gilse foi presa pela ditadura e submetida a torturas físicas e psicológicas, com espancamentos, choques elétricos e pau-de-arara, além de estupros. Ela queria enlouquecer o quanto antes, pois os militares ameaçavam pegar sua filha Juliana e torturá-la caso não colaborasse com os inquéritos.

Depois de tudo o que sofrera, Gilse foi conseguiu ser libertada por um advogado que também era progressista e que a aconselhou sumir, pois se a pegassem novamente ela poderia até morrer. Por esse motivo Gilse teve de continuar na clandestinidade, foi para São Paulo e reencontrou o marido, teve outra filha e foi convidada a comandar a militância no Ceará, onde permaneceu por nove anos.

Gilse é personagem do livro As Moças de Minas, de Luis Manfredini, editado pela Alfa Omega. Com o subtítulo Uma história dos anos 60, o livro narra a trajetória de cinco jovens ligadas à organização revolucionária Ação Popular (que, no início dos anos 70, viria a incorporar-se no PCdoB), em sua luta contra o regime militar então vigente no Brasil. Abandonaram a estabilidade e o conforto da vida que levavam nas cidades para se misturarem a operários e camponeses e neles despertar a semente das lutas sociais. Sentiram na carne as privações da clandestinidade, as dores das torturas e da prisão de companheiros e companheiras. Enfrentaram com bravura um dos mais terríveis aparatos repressivos da América, mas anos depois sua luta frutificaria, quando o regime militar por fim caiu.

Para Gilse o sonho não acabou, porque ela acredita que os jovens assim como todos devem continuar a luta. Pois hoje a polícia não fica na porta das escolas e faculdades reprimindo os estudantes como naquela época. O que falta é coragem para continuar a luta e não aceitar tudo o que o governo impõe ao povo.

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